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ToggleSegundo Evanildo Bechara (2010), os adjetivos podem ser definidos como palavras que caracterizam o substantivo, conferindo-lhe uma qualidade, estado ou pertencimento. A riqueza dessa classe de palavras reside justamente na diversidade de sentidos que pode assumir. Bechara destaca que os adjetivos não se restringem às qualidades permanentes — como “inteligente” ou “gentil” —, mas se estendem também a estados momentâneos, como “doente”, e a relações, como “estudantil” ou “paulista”. O autor defende, ainda, que o adjetivo é um modificador do nome e pode influenciar a carga semântica do discurso.
Nessa perspectiva, os adjetivos qualificativos, também chamados de “adjetivos próprios”, expressam uma qualidade intrínseca ou transitória do ser, como em “criança alegre”, “homem cansado” ou “mulher determinada”. A esses, soma-se o subgrupo dos adjetivos de estado, que descrevem condições momentâneas, físicas ou emocionais. Bechara assinala que essas qualidades podem ser tanto objetivas (visíveis, mensuráveis) quanto subjetivas (interpretativas ou afetivas), sendo marcadores de conteúdo descritivo e avaliativo.
Por sua vez, os adjetivos relacionais não expressam uma qualidade em si, mas uma relação semântica entre o substantivo que qualificam e outro termo — geralmente uma categoria temática ou institucional. Exemplos incluem “jurídico” (relativo ao direito), “governamental” (relativo ao governo) e “municipal” (relativo ao município). Tais adjetivos são frequentemente formados por derivação sufixal (geralmente com os sufixos –al, –ar, –ico, –ense, entre outros) e seu valor é classificatório, não descritivo, sendo comuns em textos técnicos e administrativos.
Classificação Semântica dos Adjetivos
Cunha e Cintra (2013), ao tratarem da morfossintaxe do adjetivo, aprofundam a classificação semântica da seguinte forma:
- Adjetivos de qualidade: conferem atributos ao ser, podendo ser permanentes (“honesto”, “sábio”) ou transitórios (“triste”, “nervoso”).
- Adjetivos relacionais: derivam de substantivos e indicam vinculações com áreas do saber, localidades, instituições, etc. São invariavelmente não gradativos e não admitem intensificadores (ex.: “escolar”, “militar”, “jurídico”).
- Adjetivos de valor: expressam julgamentos subjetivos, indicando apreciações positivas ou negativas — como “ótimo”, “terrível”, “louvável” —, sendo bastante recorrentes em textos argumentativos e opinativos.
- Adjetivos enumerativos e organizacionais: como “primeiro”, “último”, “penúltimo”, são empregados para indicar ordens ou posições em sequência, sendo mais funcionais do que descritivos.
- Adjetivos de estado: indicam algo transitório, que não é próprio do ser, como aparecem em “estava nervoso”, “ficou calado”, “andava preocupado”.
A Importância do Contexto Discursivo
Maria Helena de Moura Neves (2002), em sua abordagem funcionalista, destaca a importância do contexto discursivo na interpretação dos adjetivos. Nesse sentido, a autora defende que a semântica do adjetivo é amplamente dependente do gênero textual e da intenção do falante. Desse modo, os adjetivos são, em sua visão, elementos argumentativos e estruturadores de sentido. Ainda segundo Neves, ao escolher um adjetivo, o enunciador constrói um ponto de vista — o que se nota, por exemplo, em adjetivos valorativos ou em estratégias de adjetivação que visam à persuasão. Em textos jornalísticos, por exemplo, o uso de adjetivos como “polêmico”, “alarmante” ou “ineficiente” posiciona o locutor frente ao objeto textual.
Ampliando a análise, Carlos Alberto Faraco e Francisco Marto (1992) sustentam que os adjetivos formam uma classe aberta e derivável, permitindo a formação de novas palavras por meio de sufixos (ex.: “metalúrgico”, “infantil”). Além disso, eles observam que muitos adjetivos funcionam como verdadeiros marcadores discursivos ideológicos, uma vez que revelam juízos de valor no discurso público e midiático. Assim, a adjetivação pode ser tanto descritiva quanto avaliativa, desempenhando papel crucial na construção de ethos discursivo.
Por sua vez, Luís Antônio Mascuschi (2002), em sua análise textual-interativa, ressalta que os adjetivos cumprem funções pragmáticas que extrapolam a descrição, como a intensificação de argumentos, a hierarquização de ideias e a marcação de subjetividade, especialmente quando aparecem em textos opinativos ou em narrativas. Nesse contexto, ele destaca o valor discursivo de expressões como “alarmante problema” ou “brilhante solução”, em que o adjetivo atua como um gatilho para o posicionamento do leitor.
Síntese das Principais Categorias Semânticas dos Adjetivos
Categoria | Valor Semântico Central | Exemplos |
Qualificativo (valorativo) | Avaliação subjetiva do emissor Qualidades físicas, psíquicas ou abstratas | bonito, inteligente, romântico |
Relacional | Pertencimento, naturalidade, nacionalidade ou relação temática | jurídico, escolar, industrial |
De estado | Aspecto temporário, transitório, que não é próprio do ser | Cansado, preocupado, |
Intensificadores / Modais | Grau, extensão, intensidade | total, parcial, leve, grave |
Lembre-se de que um mesmo adjetivo, a depender do contexto, pode exprimir diferentes relação.
Adjetivos em Dicionários Pedagógicos e Linguísticos
Por fim, os dicionários pedagógicos e linguísticos como o Dicionário de Linguística de Dubois et al. (1973) Dessa forma, indicam que a classe dos adjetivos possui carga semântica variável e contextual, sendo essenciais para o léxico avaliativo da língua. Isso porque tal uso abrange os chamados adjetivos modais e afetivos, cuja interpretação exige conhecimento de mundo e inferência discursiva.
Questões Comentadas da FGV sobre Adjetivos
A FGV é uma das bancas que mais exploram a classificação semântica dos adjetivos em suas provas. Vamos analisar algumas questões para entender melhor como esse conteúdo é cobrado.
Questão 1: Valor Semântico do Adjetivo “Grande”
Assinale a frase em que o adjetivo “grande” mantém o seu valor semântico original de dimensão.
A) Alemanha, grande Alemanha, acima de todas as coisas.
B) Ter agradado a grandes guerreiros não é a menor das glórias.
C) Grandes mansões nem sempre fazem a felicidade dos moradores.
D) Os grandes agravos despertam a cólera nos peitos mais humildes.
E) É agradável, enquanto no mar revoltoso os ventos levantam as águas, observar da terra os grandes esforços de outrem.
✅ Comentário
A) Alemanha, grande Alemanha, acima de todas as coisas.
→ Aqui, “grande” está carregado de sentido afetivo e simbólico: trata-se de uma exaltação patriótica. A dimensão não é física, mas sim valorativa, enaltecendo a importância da nação.
B) Ter agradado a grandes guerreiros não é a menor das glórias.
→ Neste caso, “grandes” refere-se à importância e glória dos guerreiros, não ao seu tamanho físico. Mais uma vez, o sentido é conotativo, de prestígio ou reputação.
C) Grandes mansões nem sempre fazem a felicidade dos moradores.
→ Gabarito correto. Aqui, “grandes” retoma o sentido denotativo e literal: tamanho físico das mansões. Estamos falando de residências de grandes proporções — dimensão espacial, portanto. É o único item que preserva o valor semântico original do adjetivo “grande”.
D) Os grandes agravos despertam a cólera nos peitos mais humildes.
→ O termo “grandes”, neste contexto, é usado para qualificar a gravidade ou intensidade dos agravos, ou seja, dos insultos ou ofensas. Há um juízo de valor subjetivo, e não referência ao tamanho.
E) É agradável, enquanto no mar revoltoso os ventos levantam as águas, observar da terra os grandes esforços de outrem.
→ A palavra “grandes” expressa aqui a intensidade, a magnitude emocional ou moral dos esforços. Não se trata de tamanho literal, e sim de nobreza ou dificuldade desses atos.
Questão 2: Substituição de Oração Adjetiva por Adjetivo
Em todas as frases a seguir foi feita a substituição de uma oração adjetiva por um adjetivo de valor semântico equivalente. Assinale a frase em que essa substituição foi feita inadequadamente.
A) As nações que estão em guerra / beligerantes.
B) Um estudo que não aprofunda a questão / superficial.
C) Um povo que é originário do próprio local onde vive / autóctone.
D) Uma chuva que sofre várias interrupções / intermitente.
E) Um ouvinte que presta muita atenção / atencioso.
✅ Comentário
A questão exige que o candidato identifique a alternativa em que a substituição da oração adjetiva por um adjetivo não preserva o sentido original da frase.
A) “As nações que estão em guerra / beligerantes.”
→ Correta. O adjetivo beligerantes é comumente usado para designar nações ou grupos envolvidos em conflito armado. É um sinônimo perfeito para “nações que estão em guerra”.
B) “Um estudo que não aprofunda a questão / superficial.”
→ Correta. O adjetivo superficial indica justamente algo que trata o tema de forma rasa, sem profundidade. Mantém o sentido da oração original.
C) “Um povo que é originário do próprio local onde vive / autóctone.”
→ Correta. O termo autóctone é técnico e exato: refere-se a povos nativos, originários do local em que habitam. Equivalência semântica mantida.
D) “Uma chuva que sofre várias interrupções / intermitente.”
→ Correta. O adjetivo intermitente descreve algo que ocorre com interrupções, não contínuo. Sinônimo preciso da oração.
E) “Um ouvinte que presta muita atenção / atencioso.”
→ Incorreta. Aqui está a pegadinha da FGV.
Embora “atencioso” possa parecer uma substituição adequada, ele tem um campo semântico mais amplo e diferente. Em português, “atencioso” costuma estar relacionado a cortesia, gentileza, delicadeza no trato com os outros, e não somente à concentração ou foco.
✅ A expressão “um ouvinte que presta muita atenção” remete à ideia de concentrado, focado, atento — e a palavra mais adequada seria atento ou concentrado, não atencioso. Assim, há um desvio de sentido nessa substituição.