Hoje, renovo algumas de minhas convicções. O tempo me permitiu experienciar minhas dores sem muita mágoa, aprendendo a conviver com os altos e baixos da vida adulta. Espero que você goste da leitura. Desenvolvi a capacidade de conviver com os defeitos dos outros e com os meus. Aprendi a observar mais as virtudes que as imperfeições humanas.
Experimento diariamente o exercício da compaixão, do altruísmo, da obrigação de tentar ser alguém melhor.
Não questiono a vontade de Deus e consigo lidar com as perdas e cruzes que a mim se designaram. Amo amar, independentemente do que isso possa me causar. Não sofro pela possibilidade do que pode dar errado.
Valorizo uma boa conversa e seus silêncios. Aprendi a ler o que não está escrito e a ouvir as coisas não ditas – ainda que não sejam exatamente o que queria… Hoje, entendo que a desgastada expressão “tudo passa” é, de fato, verdadeira e que, do que passou, ficam as lembranças do que foi (e não do que deveria ter sido). Aprendi que, quando algo fracassa perto de nós, a responsabilidade também é nossa, ainda que não a aceitemos por completo.
Já compreendi que duas taças de vinho me deixam mais risonha, mais animada, mais reveladora de mim mesma. No entanto, três… me fazem dormir ou me dão dor de cabeça em todas as conotações possíveis.
Sei que Vinícius tinha razão acerca do seu “eterno enquanto dure” e que não há nada que eu possa fazer para mudar essa verdade inconteste. Relembro, sem culpa, aquele amor do passado (sem que isso comprometa o atual). Planto o que realmente quero colher. Não jogo sementes ao vento. Cuido do meu jardim.
Compreendi que felicidade é uma opção a ser feita diariamente, uma conquista que não depende dos outros, mas apenas de nós mesmos. Não busco a felicidade em grandes ocasiões. Eu a projeto nas pequenas coisas do meu dia a dia – no café com o Alexandre, no almoço com o Tatá, nas conversas maduras com a Júlia, nos desafios superados pelo Víctor, nas aulas da faculdade de psicologia, nas aulas que ministro, no milho e no feijão que colhi nos últimos meses…
Fisicamente, eu me sinto um pouco mais pesada e mais lenta… Mas, mais leve por dentro! Já não me ressinto tão facilmente. Já não minto para agradar os outros. Não finjo ser o que não sou. Preocupo-me mais comigo mesma (e com os meus sentimentos) do que com o que os outros pensam a meu respeito.
Já não me importa se o rosto ou o físico já não são tão expressivos como em outros tempos… Tenho outras qualidades que permanecerão comigo até o fim dos meus dias – e invisto cada vez mais nelas.
Aprendi a ouvir o conselho de pessoas mais maduras (e também – por que não? – de jovens bem intencionados). Já me convenci de que não há nada de errado em não estar certa sobre o que é certo. Hoje sei que as certezas mudam com o tempo e que voltar “atrás” não é feio. Pode ser, inclusive, a única coisa sensata a ser feita. Assim, mudo de roupa se não gostar do que estou usando – exatamente da mesma forma como mudo de ideia se houver argumento para fazê-lo.
Reconheço minhas limitações e busco diariamente trabalhá-las. Sonho sempre. Adoro as palavras “sussurro” e “suspiro” em forma, som e conteúdo. Sou incorrigivelmente romântica. Vivo sem muito medo o intervalo que se constrói entre o passado e o futuro. Valorizo o instante mínimo sobre o qual eu posso agir.
Aos 45, estou em paz. Não busco o que não posso ter… Potencializo tudo o que tenho. Dou o meu melhor todos os dias, mas sei que estou em construção, por isso nem sempre acerto…
Por Flávia Rita
26/02/2025