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O que são máximas conversacionais?
As máximas conversacionais (de Paul Grice) revolucionaram as pesquisas no campo da linguagem pragmática. Trata-se da capacidade que um enunciado tem de transmitir mais informações veiculado. Para tanto, o filósofo estabeleceu as máximas conversacionais que devem conduzir uma interação linguística, como e quando elas são infringidas e quais as decorrências dessa desobediência (in)voluntária a essas máximas
Categorias de máximas conversacionais
De acordo com Grice, as máximas conversacionais são divididas em quatro categorias:
- a da quantidade
- a da qualidade
- a da relevância e
- a do modo
E o que significa cada uma delas? Vamos entender!
Categoria da quantidade
Está relacionada à quantidade a ser fornecida em um dado enunciado.
A ela correspondem as máximas:
1) A mensagem deve ser tão informativa quanto necessária:
2) O usuário da língua deve limitar as informações ao necessário, sem extrapolar o contexto.
Vejamos o seguinte exemplo:
Mévio e Caio estão conversando em um bar. Indagado sobre seus planos, Mévio explica que pensava em viajar para a Dinamarca, cuja capital é Kopenhagen e cujo povo é bastante educado.
Na situação acima, vemos uma violação à máxima da quantidade. Por quê? Porque a resposta dada por Mévio extrapola o escopo interrogativo de Caio. Ou seja, ao perquirir sobre os planos de seu companheiro, Caio necessitava saber apenas o que planejava Mévio para o futuro. Isso quer dizer que era absolutamente dispensável as informações a respeito da capital e do povo do país.
• Na FGV, isso aparece em questões de pleonasmo e também nas questões de associação entre pergunta e resposta.
Categoria da qualidade
Está relacionada à veracidade das informações dadas, ou seja, as informações devem ser lógicas e verdadeiras.
A ela correspondem as máximas:
1) A mensagem não deve afirmar o que o interlocutor acredita ser falso;
2) A mensagem não deve afirmar algo que não possa ser provado a partir de evidências.
Vamos dar mais um exemplo:
Mévio, ao conversar com Tício, indaga-lhe:
– O que achou da Inglaterra. Gostou da capital? Qual é o nome da cidade mesmo?
– A capital da Inglaterra é York.
Nessa situação, percebemos que Tício oferece uma resposta errada, cujo conteúdo inverídico lhe era sabido. Em razão dessas particularidades, Tício teria violado, em sua conversa, a máxima da qualidade.
Cabe destacar, portanto, que o uso de diferentes recursos de linguagem pode resultar em violação da máxima da qualidade. Assim, quando um falante usa, por exemplo, de ironia, metáfora, eufemismo ou hipérbole, ele estará prejudicando a qualidade do discurso, violando uma das máximas.
Observe:
- — Você está triste? — Não, estou pulando de felicidade. (ironia)
- Maria sempre foi uma anjinha. (metáfora)
- Infelizmente, minha filha, cotoco, foi para o céu dos cães. (eufemismo)
- Eu poderia comer um boi. (hipérbole)
Em todos os exemplos acima, vemos que a informação não apresenta qualidade, exatamente por trazer elementos que não correspondem, objetivamente, com a verdade.
• Na FGV, isso aparece em questões de coerência e coesão, de não contradição, de inferência e pressuposto.
Categoria de relação/relevância
Está relacionada à relevância da informação prestada. Nesse caso, o interlocutor deve se ater estritamente ao eixo temático, sem digredir.
A ela correspondem as máximas:
1) O conjunto informativo não pode fugir ao tema proposto, ou seja, não pode digredir.
Por exemplo, imagine que Caio, ao ser questionado a respeito de sua comida favorita, comece a discorrer sobre a beleza de um dia de primavera. Obviamente, nesse caso, ele fugirá do assunto e, consequentemente, desrespeitará a máxima da relevância.
• Na FGV, isso aparece em questões nas quais a banca pede um enunciado que aborde uma visão positiva/negativa de dado tema. Também aparece em questões de ditados populares e em interpretação inferencial de textos.
Categoria de modo
Está relacionada à formulação do enunciado. Trata-se, especialmente, do aspecto de clareza associado ao discurso. Pode ser traduzida por aquele velho ditado: “não importa o que você diz, mas sim como você diz”. Isso significa que essa regra impõe limites formais à conversa, exigindo que a informação seja transmitida de maneira ordenada, clara e concisa.
A ela correspondem as seguintes máximas:
1) A mensagem deve evitar a obscuridade;
2) A mensagem não pode conter ambiguidade;
3) A mensagem deve ser breve;
4) A mensagem deve ser ordenada, evitando-se inversões ou intercalações que lhe comprometam o sentido.
Imagine a seguinte situação:
Mévio e Tício, sentados em uma mesa de bar, conversam sobre diversos assuntos. Tício, contudo, quando comenta algo, sempre intercala um comentário sobre eventos aleatórios, estendendo-se demasiadamente em explicações desnecessárias ou irrelevantes.
No caso acima, vemos que Tício desrespeita a máxima do modo, pois a intercalação de assuntos dispensáveis na mensagem prejudica a sua ordem e a sua clareza.
• Na FGV, isso aparece em questões de ambiguidade/clareza e de ordenação de ideias.
Qual a função das máximas conversacionais?
Ao considerarmos as quatro máximas criadas por Paul Grice, é fácil percebermos que elas funcionam para melhorar o ato conversacional. Aqui é bom fazermos um esclarecimento. O ato conversacional corresponde à ação comunicacional na qual as informações são apresentadas na exata medida do que é requerido para a compreensão dos interlocutores. Além disso, não devem incorrer em digressões ou em obscuridades, caso contrário haverá prejuízo à comunicação, inviabilizando a desejada compreensão de um ou de todos os participantes.
Assim, ao se determinar a concisão, a clareza, a coerência e a coesão como elementos essenciais à transmissão de informações, evitam-se problemas na compreensão dos interlocutores.
Máximas conversacionais em concursos públicos
As máximas conversacionais começaram a ser cobradas em alguns concursos públicos. Entre as organizadoras, destaca-se a FGV como a banca que vem exigindo esse conhecimento dos candidatos. Veja como a banca cobra essa matéria e como as máximas são empregadas no contexto conversacional:
(FGV – TJ-RO – Analista Judiciário – Administrador – 2021) Segundo estudos teóricos, para que um texto conversacional seja eficiente, é necessário que ele respeite a máxima de quantidade, ou seja, que sua contribuição seja tão informativa quanto requeira o propósito da conversação. Imagine que as frases abaixo, sobre a palavra amigo, estejam presentes em conversa entre dois amigos, cuja finalidade é um deles dar para o outro conselhos sobre a amizade.
Aquela frase na qual a informação é perfeitamente adequada ao contexto é:
a) Os amigos são como os abacaxis: temos que provar muitos para achar um bom;
b) Um amigo de todo mundo não é um amigo;
c) Não há amigos; há momentos de amizade;
d) A amizade é mais difícil e rara que o amor;
e) A amizade é um amor que não se comunica pelos sentidos.
Na questão, temos como gabarito a letra B. Observe, então, que a banca pede ao candidato para, conforme as quatro máximas acima descritas, analisar as alternativas. Feito isso, você deve marcar aquela que não incorre em qualquer violação. Na letra B, temos essa opção, já que é a única que não tergiversa por meio de informações impertinentes ou excessivas. Em todas as outras, é possível encontrar elementos que exigem do interlocutor mais informações para compreender o que está sendo dito.
Ainda há poucas questões sobre a matéria, contudo, conhecendo a banca, a previsão é que se torne um conteúdo recorrente. Por isso, os candidatos que desejem obter boas pontuações devem estar cientes da matéria, estando capacitados para responder às questões.
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