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Você já teve dúvida no uso da vírgula, sinais de pontuação e na construção de sentidos nas frases?
Bom, ao escrever um texto é comum que apareçam questionamentos relacionados ao verbo, função sintática, uso de vírgulas e a mudança do sentido pretendido na frase, por exemplo. Por isso, continue a leitura e entenda de vez como o uso desses termos podem implicar alterações de sentido no texto e na própria sintaxe de certos elementos oracionais.
Bem como, assim como e o uso da vírgula
Quando se trata de expressão textual, não só as palavras importam. Mais do que a semântica individual de cada termo, a posição que ele ocupa na frase é determinante para a produção de sentido e, consequentemente, para a compreensão geral do texto. Por isso, muitas pessoas, mesmo que sem consciência e sem intenção, acabam incorrendo em problemas ao estruturarem a frase. Mas o que isso quer dizer, na verdade?
Um adjetivo anteposto ou posposto ao nome? Sinais de pontuação separando determinado segmento do restante da frase? Deslocamento de advérbios para fora de sua posição canônica (entenda, posição determinada pela gramática normativa)? Flexão verbal conforme o número de potenciais sujeitos? Sim, exato! Tudo isso se traduz, como resultado, na própria expressão do texto, o que, em último caso, condiciona o entendimento das informações apresentadas.
Em face dessa realidade, que leva muitos alunos a cometerem erros de pontuação ou concordância verbal, cujo efeito é a alteração de sentido em suas frases, períodos ou orações, iremos nos dedicar a analisar um caso específico – o uso de sinais de pontuação e as relações sintático-semânticas dele decorrentes. Inicialmente, vamos pegar os exemplos das conjunções “bem como” e “assim como”. Observe o exemplo das frases com vírgula:
- A) Mauro, bem como Gustavo, gostava de ler muito.
- B) Mauro bem como Gustavo gostavam de ler muito.
- A) Natália, assim como Maria, estava apaixonada por Luciano.
- B) Natália assim como Maria estavam apaixonadas por Luciano.
Ao ler essas sentenças, você notou algo de diferente entre o primeiro e o segundo caso de cada um dos modelos? Se você disser que, no segundo, em relação ao primeiro, há a supressão dos sinais de pontuação – vírgulas –, você estará certo.
Uso da vírgula: construção de sentido
Nos primeiros exemplos, vemos que o uso da vírgula separando a expressão conjuntiva aditiva – “bem como” e “assim como” – torna o segmento, na verdade, uma intercalação, a qual enfatiza o sujeito simples, representado, respectivamente, por “Mauro” e “Natália”. Nessa situação, como se deve perceber, o verbo será flexionado para sua forma singular, uma vez que a concordância, segundo dissemos, será feita com o sujeito simples.
Entretanto, ao se retirar as vírgulas, mudaremos a classe dos segmentos mencionados – “bem como Gustavo” e “assim como Maria” –, de maneira que deixarão de ser uma simples intercalação para integrarem efetivamente o sujeito. O que se percebe, portanto, é a mudança da sua forma simples para a composta, construída pela conjunção aditiva. Por essa razão, o verbo também deverá ser flexionado para o plural, não mais havendo a ênfase no primeiro termo. Entendeu a importância de saber estruturar as frases com vírgula?
Sujeitos unidos por “com”
Após essa explicação, você deve estar pensando: e em quais outros casos ocorrerá essa alteração no sentido e na forma verbal a partir da supressão da vírgula? Bem, podemos apontar as hipóteses em que os sujeitos são unidos pela preposição “com”: (Observe os sentidos das frases com vírgulas abaixo)
- A professora com os alunos decidiram a data do evento.
- A professora, com os alunos, decidiu a data da prova.
Observe que, se forem empregados os sinais de pontuação, como vimos, a própria classificação morfossintática variará, passando a locução a ser um adjunto adverbial de companhia. Nessa hipótese, o sujeito concordará apenas com o primeiro termo, de forma que poderá ser flexionado tanto no singular quanto no plural. Todavia, se não ocorrerem sinais de pontuação, essa locução comporá o próprio sujeito, tornando-o composto e flexionando, como consequência, o verbo. Por isso, conhecer o uso das vírgulas é tão importante.
Um caso especial – a intenção do autor
Essa situação, contudo, permite a flexão do verbo e a consequente alteração de sentido ainda que não haja presença de vírgulas. O verbo poderá assumir, então, tanto a forma singular quanto a plural, a depender do interesse do autor do texto em dar ou não ênfase no primeiro elemento. Veja o seguinte exemplo:
- O presidente com os ministros debateu a questão.
- O presidente com os ministros debateram a questão.
Em ambos, não foram utilizadas vírgulas, mas isso não impediu a flexão verbal conforme o sujeito – “presidente” ou “presidente com os ministros”.
Uso da vírgula: questões para você treinar
1- Cebraspe/2021- SEDUC AL
Oh, Deus, meu Deus, que misérias e enganos não experimentei, quando simples criança me propunham vida reta e obediência aos mestres, a fim de mais tarde brilhar no mundo e me ilustrar nas artes da língua, servil instrumento da ambição e da cobiça dos homens. Fui mandado à escola para aprender as primeiras letras, cuja utilidade eu, infeliz, ignorava. Todavia, batiam-me se no estudo me deixava levar pela preguiça. As pessoas grandes louvavam esta severidade. Muitos dos nossos predecessores na vida tinham traçado estas vias dolorosas, por onde éramos obrigados a caminhar, multiplicando os trabalhos e as dores aos filhos de Adão. Encontrei, porém, Senhor, homens que Vos imploravam, e deles aprendi, na medida em que me foi possível, que éreis alguma coisa de grande e que podíeis, apesar de invisível aos sentidos, ouvir-nos e socorrer-nos. Ainda menino, comecei a rezar-Vos como a “meu auxílio e refúgio”, desembaraçando-me das peias da língua para Vos invocar. Embora criança, mas com ardente fervor, pedia-Vos que na escola não fosse açoitado. Quando me não atendíeis — “o que era para meu proveito” —, as pessoas mais velhas e até os meus próprios pais, que, afinal, me não desejavam mal, riam-se dos açoites — o meu maior e mais penoso suplício. Contudo, pecava por negligência, escrevendo, lendo e aprendendo as lições com menos cuidado do que de nós exigiam. Senhor, não era a memória ou a inteligência que me faltavam, pois me dotastes com o suficiente para aquela idade. Mas gostava de jogar, e aqueles que me castigavam procediam de modo idêntico! As ninharias, porém, dos homens chamam-se negócios; e as dos meninos, sendo da mesma natureza, são punidas pelos grandes, sem que ninguém se compadeça da criança, nem do homem, nem de ambos. Santo Agostinho. Confissões. Montecristo Editora. Edição do Kindle, p. 23-24 (com adaptações).
Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue os itens a seguir.
A vírgula empregada logo após “Encontrei” (último período do segundo parágrafo) é de uso facultativo, portanto a sua supressão seria gramaticalmente correta no texto. ( ) Certo ( ) Errado Gabarito: erradoO uso da vírgula no contexto da questão é obrigatório, pois está isolando o conector “porém”, que está deslocado no texto.
2- Cebraspe/2021 – Banese
No que concerne às ideias veiculadas no texto e a suas construções linguísticas, julgue o item que se segue.
No trecho “O estudo defende que pessoas em situações de escassez, como a pobreza, têm uma maior sobrecarga mental”, a supressão da vírgula empregada logo após “escassez” manteria a correção gramatical e o sentido original do texto.
( ) certo ( ) errado
Gabarito: errado
É obrigatório o uso da vírgula diante de aposto explicativo.
3- FGV/2021 – FUNSAÚDE
“Que sorte possuir uma grande inteligência: nunca te faltam bobagens para dizer”. Nesse pensamento, os dois pontos só não podem ser adequadamente substituídos por:
(a) Visto que
(b) Sem que
(c) Já que
(d) Uma vez que
(e) Porque
Gabarito: B.
Nesse caso, os dois pontos têm o sentido explicativo. Dessa forma, o gabarito é letra B, pois “sem que” tem valor condicional.
4-FGV/2010- CODEBA
“A participação da renda pessoal na distribuição da renda nacional deve ser aumentada, e a participação da remuneração do trabalho na distribuição primária também deve ser elevada”, diz o comunicado de ontem.” (L.7-11)
Em relação à vírgula antes da palavra E no período acima, é correto afirmar que está
(A) incorreta, pois não pode haver vírgula se houver a palavra E.
(B) correta, uma vez que o E tem valor não aditivo.
(C) incorreta, pois só estaria correta se houvesse uma vírgula após a palavra primária.
(D) correta, por se tratar de caso de polissíndeto.
(E) correta, pois o E inicia oração com sujeito diferente do da anterior.
Gabarito: E
Atenção: esse é um dos assuntos mais recorrentes nas provas de português para concurso. Por isso, acrescente essa questão na sua lista de revisão, combinado?
A questão cobrou o uso da vírgula antes do E, sendo possível em três situações:
- Quando a conjunção e tem valor aditivo: comprei os ingressos para o show, e não fui.
- Quando o “E” une sujeitos em orações distintas: Pedro comprou três pães e Bernardo 2.
- Várias conjunções: e correu, e meditou, e saiu.
Uso da vírgula: dicas para estudar por questões
- Resolver questões é uma das principais estratégias para você revisar o conteúdo e conhecer o perfil da organizadora do seu concurso.
- Separe os exercícios que você teve mais dificuldade, para refazer e revisar.
- Entenda o porquê errou em cada questão, ou seja, faça uma avaliação. Por exemplo, analise em quais situações você errou sobre o uso da vírgula.
- Os assuntos que você errar ou tiver dificuldade, faça mais revisões até entender o conteúdo.
- Sabe os exercícios de vírgula com assuntos recorrentes? Faça uma lista desses temas. Assim, você conseguirá entender o raciocínio da banca melhor.
- Mensure e avalie o seu desempenho. Ou seja, faça uma planilha a fim de acompanhar o seu desenvolvimento nas questões.
- Fique sempre atento a casos especiais como, por exemplo, o uso da vírgula antes do e, o uso da vírgula depois do e, entre outros.
- Não tenha medo de fazer exercício. Treine e confie no seu potencial.
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