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O uso adequado de conectores é uma necessidade na elaboração de qualquer texto. Talvez um dos conectores que mais cause dúvidas seja a locução “ao passo que”. Afinal, qual o seu significado específico e quando a devemos empregar? Vamos ver agora essas questões e tudo que envolve essa conjunção!
Os sentidos da conjunção “ao passo que”
A locução “ao passo que” é, muitas vezes, classificada como uma conjunção subordinativa proporcional. Ou seja, ela equivaleria às formas “enquanto”, “à medida que” e “à proporção que”. Confira os seguintes exemplos:
“A fúria da carreira crescia ao passo que os fugitivos se embrenhavam na maior espessura da floresta.” (Alexandre Herculano, Lendas e narrativas, p. 212)
“Gilberto levanta os olhos para o camarote da mãe e lhe faz um sinal breve com a mão, ao passo que seu sorriso se alarga, ganhando um brilho particular.” (Érico Verissimo, “As mãos de meu filho”, Os melhores contos brasileiros de todos os tempos)
Ao passo que assistia às aulas, seguia anotando.
Esse é, contudo, um sentido clássico do conector, embora seja ele ainda bastante empregado nos dias de hoje. Além desse significado, a loução também pode ser empregada, por vezes, como uma conjunção coordenativa adversativa, semelhante a “mas”, “entretanto”, “contudo” etc. Observe:
“[…] o pai ficou totalmente consternado e morto, ao passo que a filha sentiu a alma respirar livremente […].” (Machado de Assis, Iaiá Garcia).
O tio não passava de pobretão, ao passo que seu irmão esbanjava uma vida de luxo.
Maria era linda, ao passo que Angélica era simpática.
Note, portanto, que temos um caso de polissemia conjuncional, o que nada mais é do que a variação da classe do conector conforme o contexto. Nas lições dos gramáticos Celso Cunha e Lindley Cintra, esse fenômeno é descrito como:
Algumas conjunções subordinativas (que, como, porque, se, etc.) podem pertencer a mais de uma classe. Sendo assim, o seu valor está condicionado ao contexto em que se inserem, nem sempre isento de ambiguidades, pois que há circunstâncias fronteiriças: a condição da concessão, o fim da consequência, etc.
Treinando a conjunção “ao passo que”…
Para treinar, separamos para você uma questão de conectores sobre o uso da conjunção “ao passo que”. Vamos lá?
Questão. (FCC, 2011)
As artes plásticas apresentam-se a nós no espaço: recebemos uma impressão global antes de detectar os detalhes, pouco a pouco e em nosso ritmo próprio. A música, porém, baseia-se numa sucessão temporal, e exige uma memória alerta. Sendo assim, a música é uma arte cronológica, assim como a pintura é uma arte espacial. A música pressupõe, antes de tudo, certa organização do tempo, uma crononomia, se me permitem esse neologismo. As leis que regulam o movimento dos sons exigem a presença de um valor mensurável e constante: a métrica, elemento puramente material, através do qual o ritmo, elemento puramente formal, se realiza. Em outras palavras, a métrica resolve a questão de em quantas partes iguais será dividida a unidade musical que denominamos compasso, enquanto o ritmo resolve a questão de como essas partes iguais serão agrupadas em um determinado compasso. […] Vemos, portanto, que a métrica – já que intrinsecamente oferece apenas elementos de simetria, sendo inevitavelmente composta de quantidades iguais – é necessariamente utilizada pelo ritmo, cuja função é estabelecer a ordem no movimento dividindo as quantidades fornecidas pelo compasso. |
(Fragmento extraído de Igor Stravinsky. Poética musical. Trad. Luiz Paulo Horta. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1996. p.35)
- As artes plásticas apresentam-se a nós no espaço.
- A música, porém, baseia-se numa sucessão temporal.
As frases acima articulam-se em um único período, com lógica e correção em:
A) Apresentando-se a nós no espaço, as artes plásticas são o contrário da música que se baseia numa sucessão temporal.
B) Ao passo em que a música baseia-se numa sucessão temporal, as artes plásticas, contudo, apresentam-se a nós no espaço.
C) Conquanto se apresentem a nós no espaço, as artes plásticas não se baseiam numa sucessão temporal como a música.
D) Não se apresentando a nós no espaço, a música, como as artes plásticas, baseando-se, entretanto, numa sucessão temporal.
E) Diferentemente das artes plásticas, que se apresentam a nós no espaço, a música baseia-se numa sucessão temporal.
Gabarito: Letra E
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