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O verbo preferir é muitas vezes emprego de forma incorreta, em razão de seu uso normalizado pela língua falado. Em razão disso, muitas pessoas cometem erros na hora de produzir mensagens escritas ou de elaborar uma redação. Por isso, vamos entender de uma vez por todas como usar o verbo preferir, segundo as recomendações da norma culta.
Noção geral de regência
Primeiramente, vamos deixar claro o que se entende por regência. Essa nomenclatura gramatical tem sido adotada em sentido amplo e restrito. No primeiro, ela equivale à ideia de subordinação sintática, em que algumas palavras subordinam outras. Já no segundo, a regência diz respeito, conforme a lição de Celso Pedro Luft:
“[…] à subordinação especial de complementos às palavras que os preveem na sua significação”.
Explicando: considera-se regência em sentido restrito a necessidade ou a desnecessidade de se empregar uma complementação específica em decorrência da significação dos nomes e verbos utilizados. Complicado? Vamos esclarecer mais.
Por exemplo, na frase “Marco colocou o livro sobre a mesa”, tem-se um caso de regência verbal. O verbo “colocar” rege seus complementos “o livro” e “sobre a mesa”. Nesse processo, poderá haver ou não a presença de complementos, a serem determinados pela semântica verbal.
Esses complementos assumirão diversas formas morfossintáticas, como objetos direto e indireto, adjuntos adnominais, complementos nominais ou mesmo preposições. As preposições regentes, contudo, não são, muitas vezes, fixas ou únicas, podendo existir outras opções de construção verbal.
Assim, quando se fala em regência verbal, fala-se, na verdade, do emprego de um complemento específico do verbo. Normalmente, essa matéria exige o conhecimento acerca da preposição regente, ou seja, aquela por exigida pelo verbo.
Feito essa introdução e afastando nossas dúvidas sobre o que é, de fato, regência verbal, vamos entender como usar corretamente o verbo preferir.
Regência do verbo preferir
O verbo preferir, segundo a gramática normativa, poderá ser empregado com transitividade direta e indireta ou nas formas transitiva direta, transitiva indireta ou intransitiva. No primeiro caso, ao contrário do que muitos acreditam, haverá a regência da preposição “a” e não dá preposição “de”.
Vamos analisar cada uma dessas ocorrências para entender melhor.
Preferir como verbo transitivo direto e indireto
O verbo preferir é empregado com o sentido de “dar preferência a algo ou a alguém”, “dar primazia a”, “gostar mais de” ou “escolher ou querer algo antes”. Como se trata de um verbo transitivo direto e indireto, um de seus complementos será preposicionado, tendo como termo regente a preposição “a”. Observe os seguintes exemplos:
Marcelo preferia ler a escrever.
Márcio prefere chocolate a sorvete.
Henrique preferia reuniões pessoais à virtuais. .
Laura era muito focada. Ela preferia sempre que a criticassem a que a elogiassem sem razão.
Felipe sempre havia preferido a música à printura, entretanto, quando estudou Picasso, começou a se interessar mais pela segunda.
Preferir como verbo transitivo direto
Além de sua transitividade direta e indireta, o verbo preferir também pode ocorrer acompanhado apenas de seu objeto direto. Isso ocorrerá, normalmente, quando o contexto permitir a compreensão dos elementos que não são preferidos. Nesse caso, não haverá qualquer preposição regente. Veja os exemplos abaixos:
Maria sempre preferiu praia.
Carlos nunca deixou de preferir doce de leite.
Ela prefere morando?
Preferir como verbo transitivo indireto
Uma outra ocorrência do verbo preferir se dá em sua forma transitiva indireta. Nesse caso, terá como termo regente de seu objeto a preposição “a”. Observe os seguintes adaptados do livro Dicionário Prático de Regência Verbal, do professor Celso Luft:
O dever, normalmente, prefere ao prazer.
Em várias áreas, as decisões da União preferem às dos estados e municípios.
É correto usar o verbo preferir + “do que”?
Na língua coloquial, é comum escutarmos a forma “preferir mais uma coisa do que outra”. Essa construção decorreria, segundo lição do professor Celso Luft, do traço semântico de “antes” ou “mais”, presente pleonasticamente no verbo “preferir”. Entretanto, o uso da expressão “do que” é considerada incorreta pela norma culta.
Embora algumas pessoas façam um paralelismo entre os verbos preferir e gostar, esse, sim, regido pela preposição “de”, não é correta essa alteração promovida na regência verbal.
Portanto, apesar de existir na língua coloquial, sendo, algumas vezes, abonada por autores consagrados, a forma acompanhada da expressão “do que” não é considerada gramaticalmente correta. Então lembre-se de, nas comunicações escritas, não cometer esse deslize.
- Norma culta: Maria prefere nadar em casa a ir à praia.
- Linguagem coloquial: Maria prefere nadar em casa do que ir à praia.
- Norma culta: Jorge prefere dias ensolarados a dias nublados.
- Linguagem coloquial: Jorge prefere dias ensolarados do que dias nublados.
Preferir como verbo intransitivo
Por fim, o verbo preferir pode ainda ser empregado na forma intransitiva, ou seja, dispensando seus complementos verbais. Para quem estuda a matéria de Direito para concursos, possivelmente já passou por diversos exemplos desse tipo. Quer ver?
Concorrendo à remissão vários pretendentes, preferirá o que oferecer maior preço.
Observe que a locução “o que oferecer maior preço” é o sujeito do verbo “preferirá”. Nesse caso, não há qualquer complemento verbal.
E as expressões “preferir mais” ou “preferir muito”?
O uso de advérbios de intensidade nas construções com o verbo preferir é considerada errada do ponto de vista gramatical. Isso se dá em razão do sentido redundante que se constrói, uma vez que a ideia de preferir já implica escolher algo dentre uma pluralidade de opções, o que, por sua vez, exprime a noção de intensidade. Por essa razão, evite usar esse tipo de expressão para não cometer pleonasmos. Veja os exemplos:
Prefiro ir à praia a ir caminhar na montanha.
Prefiro muito mais ir à praia a ir caminhar na montanha.
Vamos treinar?
Depois de todas essas explicações, e sabendo que é um verbo que muitos têm dificuldades, separamos duas questões para você poder treinar e ver, na prática, como essa matéria costuma aparecer em concursos públicos.
Comentamos cada questão para não deixar qualquer dúvida. 🙂
I e II.
Gabarito: Letra D.
Comentário. O item I é considerado correto, pois, como vimos, o verbo preferir possui o sentido implícito de fazer referência a um grupo maior (você escolhe uma coisa dentre várias). O item II está correto, já que o verbo preferir é regido pela preposição “a” e apresenta, normalmente, transitividade direta e indireta. O item III mostra-se errado, uma vez que, na frase “Prefiro os alimentos crus aos cozidos”, o verbo preferir é empregado com transitividade direta e inreta, ao passo que na oração”Prefiro meses mais longos” ele assume apenas transitividade direta. Portanto, não pode dizer que, sintaticamente, tratam-se de casos análogos. Por fim, o item IV está correto, pois o uso do advérbio “mais” torna redundante a frase.
Gabarito: Letra A.
Comentário. A letra A está correta, pois emprega o verbo preferir segundo as prescrições da norma culta. As letras B, C e E estão erradas, já que a gramática normativa considera incorreto o uso da forma “do que”. A letra D, por fim, também se mostra errada, dado incorrer em pleonasmo pelo uso do advérbio “mais”.
Alguma dúvida?
O qua achou? Ainda ficou alguma dúvida depois dessas explicações? Se sim, você pode nos contar nos comentários! Além disso, caso você queira ver mais conteúdo de português sobre regência verbal, redação (introdução e desenvolvimento) ou pontuação, confira nossos outros textos!